Vez por outra você ouve por aí que o mercado de jogos no Brasil está em ascensão, certo? Não por acaso as faculdades de Game Design multiplicaram-se por todo o país nos últimos dez anos. Afinal, o crescimento de negócios relacionados a games trouxe investidores e despertou o interesse de jovens recém-saídos do ensino médio. Logo, as universidades passaram a oferecer o curso de game design para quem tem o sonho de produzir um jogo digital. Mas com tantas opções de curso de jogos por aí, surgem várias dúvidas.

Será que o mercado comporta tantas pessoas entrando na área? O mercado está saturado? Para quem é esse curso? É possível ganhar dinheiro com videogames? Pensando nessas e em outras perguntas, resolvemos destrinchar a área de games no Brasil.

O QUE FAZ UM GAME DESIGNER?

Basicamente, o profissional da área de game design pode atuar em todas as etapas da produção de um determinado jogo, desde o desenvolvimento inicial até mesmo à elaboração do roteiro. Quanto maior sua habilidade na produção, melhor, pois as grandes empresas procuram profissionais completos, não mais aqueles que somente são capazes de executar uma única tarefa.

É necessário também ter em mente que um game designer atua não apenas com jogos digitais, mas também com jogos analógicos (jogos de tabuleiro e de carta).

Áreas de atuação em jogos digitais

Caso seu sonho seja trabalhar na indústria de games, saiba que é bem provável que você tenha que lidar com a produção da arte conceitual (esboços e rascunhos da história e personagens), com a modelagem 3D de personagens e até com a parte de programação. Isso ocorre porque existem basicamente quatro áreas de atuação:

  • Game designer (responsável pelo projeto)

  • Artista (responsável pela arte do jogo)

  • Programador (quem cria os códigos em diferentes linguagens)

  • Sound designer (profissional que cria a batida envolvente do jogo). 

Você pode escolher a área que tiver mais afinidade. Se quiser saber mais sobre cada uma das formas de se trabalhar com games, temos um texto só sobre isso.

Game designer

Hideo Kojima, um dos maiores game designers da história dos jogos digitais. (Fonte: GCM)

Divisão de tarefas

Quanto maior o game, mais complexas são as tarefas executadas. Não por acaso, games com alto orçamento, os chamados AAA, contam com equipes de mais de 100 pessoas trabalhando por um ou dois anos no mesmo projeto, cada time responsável por algum aspecto do game. A tarefa do designer de jogos é cuidar para que tudo no game agrade o público, desde a arte, passando pela sonoplastia, pelo design dos personagens, até os cenários.

A pessoa que ocupa o cargo de designer-chefe acaba atuando como a cabeça de um game, de modo que as principais decisões do projeto passam por ele. É praticamente impensável que um game de sucesso seja lançado sem o planejamento prévio de um designer de jogos.

A importância do GDD

É a partir do Game Design Document (GDD), o documento de desenvolvimento do jogo, que o projeto se desenvolve. Nele, encontramos as informações necessárias para o design do game, como as plataformas nas quais será executado, os temas que serão trabalhados, um pouco da estrutura do jogo etc.

Até desenvolvedores independentes acabam fazendo um GDD, mesmo que somente em suas mentes. O planejamento é o que norteia o trabalho do profissional, pois o GDD definirá os aspectos da arte e da programação das mecânicas do projeto. Uma vez que um jogo pode demandar muito tempo e trabalho, geralmente grandes projetos contam com mais de um game designer, divididos em: designer-chefe, designer de sistema, level designer, redator etc.

Cena de jogo digital

Cenário do jogo Horizon: Zero Dawn (Fonte: Games&Games)

POR QUE INVESTIR NO CURSO DE JOGOS DIGITAIS?

Há alguns anos dizia-se que a indústria de videogames era dominada por garotos entre 12 a 20 anos. Os jogos eram vistos como um mero passatempo para os meninos, enquanto as meninas deviam se conformar em brincar com bonecas ou de “casinha”.

Em 2020, a visão de mercado mudou bastante. Conforme dados obtidos pela Pesquisa Game Brasil, cerca de dois terços dos brasileiros jogam games, seja em consoles, computadores ou smartphones. O mercado é dividido entre jogadores casuais e hardcore, sendo que os jogos casuais possuem alcance maior e, portanto, movimentam mais dinheiro em todo o mundo.

Girl Power

A maior parte do público gamer é feminino, de acordo com uma estimativa da mesma pesquisa. No Brasil, o público gamer é dividido em 53% de mulheres e 47% de homens, mostrando que o perfil do jogador é bem diferente do estereótipo habitual. A grande presença feminina nesse público pode ser explicada por vários motivos, inclusive uma oferta maior de jogos que possuem apelo a esse grupo, especialmente quando se trata de jogos mobile. Na análise das pesquisas, pôde-se ver que 83% joga pelo aparelho celular.

Gamers em competição

Equipe de gamers em competição (Fonte: BBC)

Mercado valorizado

Só no Brasil, o mercado de games movimentou em 2018 cerca de R$ 5,6 bi, sendo o principal mercado da América Latina, conforme análise da consultoria NewZoo. Esses valores justificam o maior interesse de quem produz e de quem faz publicidade com jogos. E é aí que entra o entusiasta por jogos eletrônicos, pois é altamente recomendável que as pessoas trabalhem em um ramo pelo qual já tenham alguma paixão.

Perfil dos profissionais de jogos digitais

Os nativos digitais, pessoas que cresceram depois dos anos 80, são familiarizados com tecnologias como os videogames e os aparelhos celulares. Quem cresceu curtindo jogos sabe bem que essa é uma indústria inventiva, que preza por pessoas criativas e com possibilidade de realização pessoal e profissional imensas. Essas são as pessoas que costumam fazer o curso de jogos digitais e atuar na área.

Muitas pessoas envolvidas na indústria se tornam celebridades facilmente reconhecíveis e adoradas por sua paixão pelos jogos. Isso vale para todas as áreas, como produtores (Will Wright, Shigeru Miyamoto, Hideo Kojima), designers de sons (David Wise, Nobuo Uematsu), pro-players (Faker, Mestre Daigo) etc. A área dos games pode transformar o profissional dedicado em referência dentro de sua especialidade.

Com todas as oportunidades que os jogos podem proporcionar, é fácil apontar os games como uma das áreas mais promissoras que existem. E as perspectivas são boas: segundo a 19ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, da PricewaterhouseCoopers (PwC), realizada em 2019, até 2022 o mercado de games deve movimentar cerca de US$ 1,756  bilhão.

Um dos jogos digitais brasileiros de sucesso

A lenda do herói, um jogo indie brasileiro muito utilizado como referência no mercado. (Fonte: Techtudo)

COMO TER SUCESSO NA ÁREA DE GAMES?

Não existem segredos para se tornar um profissional competente: gostar de jogos de entretenimento é o essencial! Todas as metodologias são aprendidas no curso de jogos digitais e na carreira. Pode parecer óbvio, mas se você não gostar de games, não tem como ser um bom profissional, e isto vale para qualquer outra área. 

Além disso, a criatividade é outra característica decisiva. Basta analisar os jogos das primeiras gerações de videogames, que contavam com todo tipo de limitação técnica, mas podiam hipnotizar o jogador por suas características únicas. O game designer é o profissional que vai fazer as pessoas se apaixonarem pelo jogo, mesmo que ele não conte com as melhores ferramentas tecnológicas.

Por fim, a capacidade de trabalhar em equipe é mais do que necessária. Afinal, você deve ser capaz de dialogar com sua equipe quando for necessário, por exemplo, chamar a atenção pelo descumprimento de prazos, desatenção ao briefing ou outras situações que surgirem no dia a dia. O desenvolvimento de um game é um trabalho (quase sempre) realizado em conjunto. Quanto mais alinhada a equipe, melhor será o produto final.

Equipe de designers de jogos digitais

Equipe de trabalho e desenvolvimento de jogos da Riot games. (Fonte: VirgoBrasil)

ONDE FAZER O CURSO DE DESIGN DE GAMES?

Conforme explicado acima, há uma crescente oferta de cursos de graduação para quem quer se tornar game designer. As faculdades também podem receber o nome de Game Design ou Jogos Digitais.

Naturalmente existem pessoas atuando na área sem a formação de Designer de Jogos, como é o caso de Shinji Mikami ou Suda 51. Há ainda aqueles oriundos de outras áreas, como computação gráfica e afins, demonstrando que esse setor está aberto para pessoas criativas. Entretanto, as universidades condensaram nos cursos específicos para games as metodologias mais empregadas pelos principais estúdios do mundo, a fim de formar profissionais mais capacitados para o mercado.

Aluno do curso de Jogos Digitais

Aluno de Jogos Digitais (Fonte: Instituto Infnet)

Cursos de Jogos Digitais no Brasil

A maior parte das instituições que oferecem o curso de Desing de Games fica no Rio de Janeiro ou em São Paulo, dificultando a vida de quem mora em outras regiões do Brasil e deseja fazer uma graduação presencial. Em levantamento realizado em 2017 pelo GameReporter, foi informado que o MEC aprova 50 universidades que oferecem essa graduação.

Geralmente os cursos têm duração de 4 anos e abordam os aspectos gerais da produção de jogos:

  • animação de personagens;
  • desenvolvimento 3D;
  • design de personagens;
  • direção de arte;
  • level design;
  • marketing;
  • narrativa etc.

também formações com duração menor, como cursos livres ou de especialização, voltados a profissionais de áreas correlatas que desejam atuar na área de games.

A oferta de universidades que têm o curso de jogos digitais é imensa, e embora isso seja ótimo, também exige que o aluno tenha cuidado. Antes de escolher uma faculdade, pesquise bastante sobre ela para ter certeza que oferece qualidade de ensino e a modalidade mais adequada a você, seja presencial ou EaD.

Recentemente, respondemos a dúvida de um aluno sobre a faculdade de games. Você pode conferir nossa resposta aqui.

HÁ RETORNO FINANCEIRO?

Antes de mais nada é necessário ter em mente suas prioridades. Se você quer entrar nesse negócio simplesmente por causa do retorno financeiro, pense de novo se vale a pena entrar no ramo. Dá para ganhar dinheiro com videogames no Brasil sim, porém, assim como em outras áreas, o início da carreira pode ser bastante difícil.

Evento de games

Final do Mid Season Invitational de League of Legends, sediado na Jeunesse Arena no Rio de Janeiro. (Fonte: Mais Esports)

Nosso país está crescendo a olhos vistos nesse setor, sediando importantes eventos como a BGS e o BIG festival. Além disso, o Brasil conta com pessoas dedicadas a colaborar para a expansão do mercado, como o pessoal da Abragames, que costuma organizar comitivas para a E3, a Gamescom e até a Tokyo Game Show. Além disso, vale dizer que no Brasil há pequenas e médias desenvolvedoras bem estruturadas que possuem o know-how para desenvolver e distribuir jogos sem parceiros externos. 

Oferta de trabalho

Muitas dessas empresas abrem vagas de trabalho com uma frequência animadora. O detalhe é que muitas delas encontram dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, uma vez que quem se forma em um curso de jogos digitais tem preferido migrar para outros países em que a produção de games já é mais estabelecida, como os EUA e o Canadá. Há até casos de empresas desses países que vieram ao Brasil para recrutar novos talentos.

Vale lembrar também que o profissional de games não precisa trabalhar apenas com jogos digitais tradicionais. As características dos jogos vêm influenciando outras áreas do mercado, e os processos de gamificação e criação de jogos sérios têm se tornado cada vez mais comuns.

Média salarial

Mas vamos lá, você quer saber do salário, certo? A média salarial varia de R$ 1.200,00 a R$ 1.800,00 para game designers em início de carreira. Já os mais experientes podem faturar mais de R$ 30 mil por ano. Graças à versatilidade do currículo das universidades e cursos de jogos digitais, os produtores de games também podem atuar em outros negócios, como empresas de publicidade, de animação, produtoras de conteúdo digital, times de e-Sports etc.

TODOS QUE FAZEM O CURSO DE JOGOS
SÃO BEM SUCEDIDOS?

Arte de personagem de game

Arte da ilustradora brasileira de Hearthstone, Ursula SulaMoon, (Fonte: SulaMoon)

Assim como em outras áreas, há os profissionais que conquistam sucesso e há aqueles que ficam pelo caminho. Tudo depende do quanto você está disposto a trabalhar no setor. E, é claro, ter diploma específico de um curso de jogos digitais ajuda muito!

Um profissional competente e esforçado dificilmente fica desempregado. Diferente de outras áreas, o setor de games não enfrenta uma grande crise desde o crash dos videogames no início da década de 80. Desde então, os jogos eletrônicos têm batido recordes de faturamento e de vendas.

Pense bem: a cada ano surge um grande jogo do momento. Os estúdios que conseguem se manter atualizados às demandas dos jogadores conseguem longevidade. O importante é ter foco, estudar bastante e empregar sua criatividade para desenvolver bons projetos. Assim, não tem como dar errado!

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